Distúrbios Alimentares Pediátricos e Atraso de Fala e Linguagem: Qual a Relação? 

O que são distúrbios alimentares pediátricos (DAP)?

 

Os distúrbios alimentares pediátricos (DAP) são dificuldades persistentes para comer e engolir que podem afetar o crescimento, a nutrição e até o convívio social e emocional da criança. Comer não é um ato automático: envolve a coordenação de movimentos da boca, sinais do cérebro como fome e saciedade, o funcionamento do sistema digestivo, além de fatores cognitivos, emocionais e sociais.

 

Esses distúrbios podem ter causas orgânicas, como alterações anatômicas, neurológicas ou sensoriais, ou causas não orgânicas, relacionadas a questões emocionais e comportamentais. Muitas vezes, estão associados a condições do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e Transtorno do Desenvolvimento de Linguagem (TDL).

 

Segundo o consenso internacional publicado por Goday et al. (2019), o DAP deve ser compreendido de forma ampla, integrando os aspectos médicos, nutricionais, motores, sensoriais, comportamentais e psicossociais da alimentação.

 

Quais são os principais tipos de distúrbios alimentares na infância?

 

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), por outro lado, classifica os transtornos alimentares infantis dentro da categoria dos transtornos alimentares e da ingestão alimentar, incluindo:

  • Transtorno de Ingestão Alimentar Evitativo/Restritivo (TARE) – quando a criança evita certos alimentos por aversão ou falta de interesse.
  • Pica – ingestão de substâncias não nutritivas.
  • Transtorno de Ruminação – regurgitação repetida de alimentos.
  • Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa – embora mais comuns na adolescência, podem ter sinais precoces na infância.

 

Observação: O DSM-5 foca nos critérios comportamentais e nos impactos funcionais para fins diagnósticos em saúde mental e o consenso de Goday (2019) propõe uma visão mais interdisciplinar, reconhecendo que os distúrbios alimentares pediátricos apresentam uma abordagem clínica ampla e integrada. Portanto, ambos os termos são adotados dependendo dos contextos médicos, terapêuticos e educacionais, para melhor compreender e acolher a complexidade desses quadros na infância.

Como os distúrbios alimentares podem estar relacionados ao atraso ou transtornos de fala e linguagem?

 

Os distúrbios alimentares e os distúrbios de fala e linguagem apresentam uma relação extremamente próxima. É muito comum, na prática clínica, observar crianças que apresentam atrasos ou quadros persistentes tanto no desenvolvimento da alimentação quanto da fala e linguagem. Isso ocorre porque ambas as condições compartilham:

  • Estruturas anatômicas periféricas comuns, como os músculos e ossos das regiões orofaciais, que participam tanto da mastigação e deglutição quanto da articulação da fala.
  • Regiões neuroanatômicas semelhantes, incluindo a área de Broca, o córtex motor primário inferior, a ínsula, a área motora suplementar, o tronco encefálico e os nervos cranianos, responsáveis pelo planejamento e execução dos movimentos orais.
  • Circuitos de integração sensório-motora, como os núcleos da base e o cerebelo, que coordenam o ritmo, a precisão e a fluência dos movimentos envolvidos na alimentação e na fala.
  • Impactos emocionais e comportamentais importantes, já que crianças com essas dificuldades costumam perceber suas limitações, o que pode gerar vergonha, constrangimento e evitar situações sociais como festas, escola e refeições em grupo. Esses fatores podem levar ao isolamento e aumentar o risco de bullying.

 

O que os pais podem observar?

 

Sinais como mastigação desajeitada, quando parece que a língua se movimenta de forma errada ou descoordenada, mastigar várias vezes e depois cuspir a comida, deixar o líquido escorrer pela boca, ter dificuldade com alimentos mais duros, engasgar com frequência ou tossir enquanto come, além de recusar muitos alimentos, babar mesmo depois da fase de bebê ou ser muito seletivo para comer, podem ser um alerta. Nessas situações, é importante buscar uma avaliação mais detalhada.

 

Como avaliar a criança?

 

A avaliação foniátrica é uma investigação completa que pode ajudar na análise das associações entre as dificuldades alimentares e os transtornos de fala e linguagem.

 

Quando necessário, também solicito uma avaliação da deglutição, que é essencial para identificar riscos de aspiração, dificuldades na mastigação e engasgos frequentes.

 

Realizo essa avaliação por meio da VED – Vídeo Endoscopia da Deglutição, um exame detalhado que permite visualizar a dinâmica da deglutição da criança em tempo real. Esse exame é fundamental para direcionar o tratamento adequado e garantir uma alimentação mais segura e eficiente.

 

 

A avaliação foniátrica pode ajudar?

 

A alimentação e a fala compartilham estruturas e circuitos motores semelhantes, responsáveis pela coordenação dos movimentos da boca, língua e mandíbula. Quando uma criança apresenta dificuldades para mastigar, engolir ou controlar a saliva, isso pode indicar desafios no desenvolvimento motor oral, impactando a produção da fala e a aquisição da linguagem.

 

Estudos mostram que problemas alimentares precoces podem ser um sinal de alerta para transtornos de fala e linguagem, reforçando a importância da identificação precoce e da intervenção adequada.

 

A avaliação foniátrica pode ajudar nesses casos! O foniatra é o médico especializado em distúrbios de fala, linguagem e deglutição. Por meio de uma avaliação detalhada, é possível identificar dificuldades na coordenação oral, na deglutição e na motricidade, permitindo um encaminhamento preciso para terapias especializadas, como a fonoterapia e a terapia ocupacional. Além disso, exames complementares como a Vídeo Endoscopia da Deglutição (VED) podem ser indicados para uma análise mais detalhada da função da deglutição e da segurança alimentar da criança.

 

Qual a importância da intervenção precoce?

 

A identificação precoce de dificuldades alimentares pode ajudar a prevenir atrasos na fala e na linguagem. Uma equipe multidisciplinar, incluindo foniatra e fonoaudiólogos, otorrinolaringologistas e terapeutas ocupacionais, pode auxiliar na melhora das funções motoras orais e no desenvolvimento da comunicação.

 

Referências bibliográficas

 

  • Goday PS, Huh SY, Silverman A, Lukens CT, Dodrill P, Cohen SS, Delaney AL, Feuling MB, Noel RJ, Gisel E, Kenzer A, Kessler DB, Kraus de Camargo O, Browne J, Phalen JA. Pediatric Feeding Disorder: Consensus Definition and Conceptual Framework. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2019 Jan;68(1):124-129. doi: 10.1097/MPG.0000000000002188. PMID: 30358739; PMCID: PMC6314510.
  • American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5-TR). 5ª edição, 2022.
    Lefton-Greif MA. Can feeding-swallowing difficulties in children predict language impairments? Dev Med Child Neurol. 2015;57(9):795-6.
  • Malas K, Trudeau N, Giroux MC, Gauthier L, Poulin S, McFarland DH. Prior History of Feeding-Swallowing Difficulties in Children With Language Impairment. Am J Speech Lang Pathol. 2017 Feb 1;26(1):138-145. doi: 10.1044/2016_AJSLP-15-0171. PMID: 28166549.

Dra. Mônica Elisabeth Simons Guerra

CRM-SP 109056 | RQE 24850
Otorrinolaringologista e Foniatra

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A Dra. Mônica Elisabeth Simons Guerra atende na Clínica Pro ORL em parceria com a Clínica La Vie. Localizado entre as estações de metros Ana Rosa e Paraíso. No local tem estacionamento próprio. 

 

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